43- MÁSCARA
NEGRA
Mudava-se para melhor. A passagem dos dias me
confirmaria isso. Mesmo que eu começasse a sentir que estava próximo o momento
em que eu perderia Chiara. E foi no reveillon,
na passagem de 69 para 70 que cometi uma loucura.
Durante todo o dezembro, Chiara não “aparecera” para
falar comigo. Até mesmo Maria Goretti, eu estava vendo pouco. Ela, conforme já
disse, estava um ano na minha frente em sua vida escolar. Já fazia faculdade e,
conseqüentemente, isso fez os meus encontros com Chiara se tornarem mais
difíceis naquele ano. Mesmo assim, nos raros momentos em que esteve comigo,
como Chiara, incentivou-me a estudar, ajudando-me muito no vestibular.
Naquele baile de reveillon, como todos os anos,
tradicionalmente depois da meia-noite a festa virou carnaval. No brinde da
meia-noite, quando todo mundo se cumprimentava, varri o salão do clube com os
olhos à procura de Maria Goretti. Encontrei-a, e como antigo colega de ginásio
e colégio dei-lhe um abraço e dois beijos no rosto. Tinha esperança de encontrar
ali, naquele momento, Chiara. Não encontrei. Era mesmo Maria Goretti.
Bebi um pouco além da conta e novamente percorri o
salão com os olhos atrás de minha esperança. Alguns amigos portavam um
lança-perfume. Pedi-lhes que molhassem o meu lenço... De repente um grande
torvelinho na minha cabeça, o som da música reverberando como um disco em
rotação errada, um arrepio fantástico suprematizando todas as sensações...
Maria Goretti dançava com uns amigos, cheguei
dançando, peguei-lhe a mão e a arrastei dali, tomando-a literalmente de seus
amigos. Até aí tudo normal porque éramos dois colegas estudantes dançando. Era
uma noite absurdamente quente. Ela disse que tinha sede e propôs sairmos um
pouco antes de dançar. Ela passou na mesa de seus amigos e pegou uma garrafa de
Coca. De repente, tudo muito rápido, sem tempo pra ter juízo, a orquestra
atacou de “Máscara Negra”. Na hora do verso: “...vou beijar-te agora...”
dei-lhe um beijo na boca. Ela recuou assustada, sem caracterizar propriamente
uma rejeição.
- Por que você fez isso? - perguntou-me.
Eu não soube responder, principalmente porque passava
o efeito da lança-perfume e percebera que minha esperança de encontrar Chiara
naquela noite, morria ali. Restava ainda a bobeira “do depois” quando se cheira
a lança. Quem viu, e houve gente que viu o beijo (Lucinha de Dona Vitiza, João
Alves, Neuza e Branca de Nina, Margot Pezzini, Milton Garrafa e outros) não
deve ter entendido nada. Até então, a cidade não nos vira juntos assim, numa
situação como aquela. Pedi desculpas a ela, disse que era carnaval e fui
perdoado. Perdoou, pediu licença e, por via das dúvidas, não quis mais dançar
comigo naquela noite.
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