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DISFARÇANDO A RELAÇÃO
Por esses detalhes pode-se perceber que era difícil a
situação de fingir que nossa relação era normal e, além disso, esconder tal
experiência de meus outros amigos, principalmente, Aluízio Viana, companheiro e
confidente. Vontade de desabafar, contar para ele e aliviar aquela carga
emocional que eu carregava, nunca me faltou. Estive mesmo, várias vezes, a
ponto de contar, e alguma coisa me deteve. Ele, por exemplo, uma vez me viu
chorar na saída de um baile do clube, pensando que fosse por outra mulher e não
sabia que era por Chiara. Se ele se lembrar da fixação emotiva que eu tinha com
a música “Hey Jude”, dos Beatles, vai lembrar-se da noite em que ele me amparou
com sua amizade. Só agora eu conto a verdadeira razão do meu choro.
Chiara sabia dessa tendência que eu teria de contar
para o meu amigo. Chamou-me a atenção com carinho e pediu-me que ainda não o
fizesse, por haver coisas maiores do que eu podia imaginar, envolvidas naquela
nossa relação. Sabia, porque era sensível, que meu amigo era pessoa da mais
extrema confiança e considerava mesmo que eu era uma pessoa de muita sorte por
contar com aquela amizade. Sabia que aquele sentimento era à prova de qualquer
coisa e entendeu assim que, um dia, futuro, quando Aluízio soubesse, ele
compreenderia, por ser a pessoa sempre sensível e educada que era.
Uma outra pessoa atenta e perspicaz era Lucinha, irmã
de Aluízio e também grande amiga. Surpreendia-me sempre por tocar no ponto
certo de algumas questões e provocar em quem estivesse conversando com ela, o
susto de ter permitido perceber situações quase impossíveis de serem
detectadas. Foi assim que eu me senti, quando, um dia, de chofre, perguntou-me
por que eu não namorava Maria Goretti. Foi a única que aventou essa
possibilidade, e isso me assustou. Pensei que ela tivesse descoberto algo, e,
assustado, perguntei por quê. Ela disse-me apenas que quando me imaginava com
uma pessoa, imaginava-me com Maria Goretti, até porque sabia do envolvimento
intelectual que havia entre nós. Lucinha afirmou sentir que deveria haver muita
compatibilidade entre nós dois e que, talvez, ainda não havíamos tido a chance
de nos descobrir. Ofereceu-se, como era seu hábito, para promover entre nós uma
situação de encontro. Mesmo que ela não fosse amiga de Maria Goretti, era
conhecida e não seria difícil se aproximar para poder encaminhar entre nós dois
um começo de namoro. Disfarcei, é claro, falei que Maria Goretti não me
interessava e que a via apenas como amiga e uma boa colega de estudos. Mais
ainda, para disfarçar, fingi estar afim de outra pessoa, inventando na hora e
aceitando, caso ela pudesse e quisesse, ajudar-me nessa investida.
Obriguei-me, poucos dias após aquela conversa, a
iniciar um pequeno namoro com R, uma menina de Sete Lagoas, que se mudara para
Matozinhos. Lucinha ficou feliz de me ver com uma namorada e lamentou não ter
sido preciso me ajudar. Colocou-se à disposição para uma próxima vez que eu
precisasse, e eu, por minha vez, mantive o namoro com R por dois meses e meio.
Não posso dizer que também mantive esse namoro tão forçado assim. R era bonita,
boa companhia e um papo excelente. Fiquei, ainda, apesar do pouco tempo de
namoro, seu amigo e muito amigo de sua família, principalmente de seu pai e seu
irmão.
A cada situação dessas que eu vivia, Chiara, com seu
bom humor, caía na minha pele, rindo muito. Pedia-me perdão por estar rindo,
mas dizia que era melhor que encarássemos sempre nossa situação com humor,
porque, incomum como era, a última coisa que ela queria é que eu sofresse. E
Leila não seria a única dessas namoradas “provisórias” que eu arrumaria em
minha vida naqueles tempos de Chiara. Tudo para disfarçar e fingir que tinha
uma vida como a de todos.
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