quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

35- Disfarçando a relação



35- DISFARÇANDO A RELAÇÃO



Por esses detalhes pode-se perceber que era difícil a situação de fingir que nossa relação era normal e, além disso, esconder tal experiência de meus outros amigos, principalmente, Aluízio Viana, companheiro e confidente. Vontade de desabafar, contar para ele e aliviar aquela carga emocional que eu carregava, nunca me faltou. Estive mesmo, várias vezes, a ponto de contar, e alguma coisa me deteve. Ele, por exemplo, uma vez me viu chorar na saída de um baile do clube, pensando que fosse por outra mulher e não sabia que era por Chiara. Se ele se lembrar da fixação emotiva que eu tinha com a música “Hey Jude”, dos Beatles, vai lembrar-se da noite em que ele me amparou com sua amizade. Só agora eu conto a verdadeira razão do meu choro.
Chiara sabia dessa tendência que eu teria de contar para o meu amigo. Chamou-me a atenção com carinho e pediu-me que ainda não o fizesse, por haver coisas maiores do que eu podia imaginar, envolvidas naquela nossa relação. Sabia, porque era sensível, que meu amigo era pessoa da mais extrema confiança e considerava mesmo que eu era uma pessoa de muita sorte por contar com aquela amizade. Sabia que aquele sentimento era à prova de qualquer coisa e entendeu assim que, um dia, futuro, quando Aluízio soubesse, ele compreenderia, por ser a pessoa sempre sensível e educada que era.

Uma outra pessoa atenta e perspicaz era Lucinha, irmã de Aluízio e também grande amiga. Surpreendia-me sempre por tocar no ponto certo de algumas questões e provocar em quem estivesse conversando com ela, o susto de ter permitido perceber situações quase impossíveis de serem detectadas. Foi assim que eu me senti, quando, um dia, de chofre, perguntou-me por que eu não namorava Maria Goretti. Foi a única que aventou essa possibilidade, e isso me assustou. Pensei que ela tivesse descoberto algo, e, assustado, perguntei por quê. Ela disse-me apenas que quando me imaginava com uma pessoa, imaginava-me com Maria Goretti, até porque sabia do envolvimento intelectual que havia entre nós. Lucinha afirmou sentir que deveria haver muita compatibilidade entre nós dois e que, talvez, ainda não havíamos tido a chance de nos descobrir. Ofereceu-se, como era seu hábito, para promover entre nós uma situação de encontro. Mesmo que ela não fosse amiga de Maria Goretti, era conhecida e não seria difícil se aproximar para poder encaminhar entre nós dois um começo de namoro. Disfarcei, é claro, falei que Maria Goretti não me interessava e que a via apenas como amiga e uma boa colega de estudos. Mais ainda, para disfarçar, fingi estar afim de outra pessoa, inventando na hora e aceitando, caso ela pudesse e quisesse, ajudar-me nessa investida.
Obriguei-me, poucos dias após aquela conversa, a iniciar um pequeno namoro com R, uma menina de Sete Lagoas, que se mudara para Matozinhos. Lucinha ficou feliz de me ver com uma namorada e lamentou não ter sido preciso me ajudar. Colocou-se à disposição para uma próxima vez que eu precisasse, e eu, por minha vez, mantive o namoro com R por dois meses e meio. Não posso dizer que também mantive esse namoro tão forçado assim. R era bonita, boa companhia e um papo excelente. Fiquei, ainda, apesar do pouco tempo de namoro, seu amigo e muito amigo de sua família, principalmente de seu pai e seu irmão.

A cada situação dessas que eu vivia, Chiara, com seu bom humor, caía na minha pele, rindo muito. Pedia-me perdão por estar rindo, mas dizia que era melhor que encarássemos sempre nossa situação com humor, porque, incomum como era, a última coisa que ela queria é que eu sofresse. E Leila não seria a única dessas namoradas “provisórias” que eu arrumaria em minha vida naqueles tempos de Chiara. Tudo para disfarçar e fingir que tinha uma vida como a de todos.

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