terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

33- Beijo roubado



33- BEIJO ROUBADO






Matozinhos sempre foi uma cidade especial e a principal referência de minha vida. Hoje, que conheço quase todos os estados do Brasil e, conseqüentemente, muitas cidades, nunca descobri, em minhas andanças, outra que se assemelhasse à minha terra. O velho ditado que dizia “quem bebe dessa água nunca mais vai embora” aplicava-se a muitas pessoas que eu conheço. Meu amigo Juracy Guimarães Filho é um deles. Grande sujeito, natural de Dores de Indaiá, veio com seus pais para Matozinhos no começo da década de 60 e lá se radicou definitivamente. Disputávamos, eu e ele, amistosamente é claro, quem melhor escrevia no Colégio Estadual Bento Gonçalves quando fomos colegas de Científico. Essa competição sempre foi incentivada por muitos de nossos professores. Não é o caso nem de dizer que escrevíamos bem, num auto-elogio. Éramos esforçados, isso sim. Líamos muito e ousávamos mais do que os nossos colegas. Na realidade, Chiara escrevia melhor que nós dois, mas ela não contava porque oficialmente não existia. Como já disse anteriormente, Maria Goretti escrevia bem, mas seus trabalhos não se comparavam em intensidade e estilo aos meus textos e aos de Juracy.
Juracy foi uma espécie de protetor que eu tive em minhas desavenças com a Matemática. Só mesmo sua paciência e habilidade de ensinar, para conseguir, muitas vezes, salvar-me de afundar de vez, como em inúmeros momentos, ele milagrosamente conseguiu, inclusive salvando-me nas provas de recuperação (2ª época), à época de meu vestibular. Poderia ter sido, se quisesse, um excelente professor, meu amigo Juracy. Optou por ser advogado, e parece-me feliz com a escolha.
Juracy foi talvez a única pessoa que, num determinado momento, chegou mais perto de descobrir que houvesse alguma coisa entre mim e Chiara (Maria Goretti). Discretíssimo, nunca comentou o fato de, um dia, flagrar-nos num beijo na beira da piscina do Itamaraty.
Procurei-o mais tarde, pedi-lhe, que, por favor, não considerasse ter visto o que viu, ele concordou rindo, e esse pequeno incidente serviu, pelo menos, para que eu tomasse mais cuidado e medisse mais as conseqüências do que eu fazia. E impressionou, a mim e a Chiara, que Juracy, coincidentemente estivesse a postos para nos salvar, um dia em que Seu Alcides, pai de Maria Goretti, quase nos encontrou, inexplicavelmente de mãos dadas no portão de sua casa. Vinha ele da rua, eu e ela nos encontrávamos cobertos pelo muro da entrada e não o víamos. De repente, a voz de Juracy chamando-o fez com que percebêssemos a sua presença tão próxima e deu-nos tempo para fingirmos nada estar havendo. Lembro-me de Chiara mordendo o lábio com um sorriso deliciosamente maldoso e fingindo para Seu Alcides que era a filha dele que estava ali. Lembro de Juracy, naquele instante, trazendo-lhe alguma coisa, um papel talvez e, sem querer, mas talvez colaborando com nossos anjos, salvando-nos naquele instante. Como já disse, nunca estive, ou melhor, nunca entrei na casa de Maria Goretti. O máximo que eu fazia e fiz poucas vezes, foi me encontrar com ela ali no portão para um diálogo rápido. Nem quero que pensem que eu e Chiara andássemos de mãos dadas o tempo todo, como dois namorados. Fazíamos isso com o afeto que os amigos o fazem, e aquele beijo da beira da piscina foi uma imprudência inconseqüente de minha parte, que ela não recusou, mas pelo qual depois me repreendeu.

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