quarta-feira, 2 de maio de 2012


Da história de Brigitte com o garoto sobrou uma carta:

Paris, le 24 décembre 1967.
Mon petit amour
Paris est belle à cette époque de l’année. Dehors, la neige couvre la ville et dans les foyers les gens se préparent pour fêter la Noël. À cette époque de l’année je reste très mélancolique et ça, cette année particulièrement, m’a fait penser à vous, mon jeune amour brésilien. Vous commencez à me manquer. Beaucoup. Votre ville me manque aussi, ainsi que l’hôtel simple dans lequel nous sommes restés, cette liqueur divine que vous m’avez fait goûter et même ce petit resto où vous m’avez emmenée dîner. C’était un des dîners les plus romantiques de toute ma vie. Vous êtes vraiment très charmant et la femme que vous aura comme fiancée sera une femme très heureuse.
J’ai parlé de vous à deux personnes: Catherine, ma secrétaire et Jean-Marc, mon coiffeur. Ils n’ont pas cru qu’un jeune homme de dix-sept ans ait été caplable de coucher avec moi et de m’avoir fait si heureuse. Je leur ait dit que vous êtes mon amour, mon jeune amant et mon doux souvenir du Brésil.
Avoir été au Brésil m’a beaucoup fait penser à ma vie. Je suis fatiguée de cette vie d’actrice; je pense venir à bout de certains engagements, puis après abandonner ma carrière. J’ai besoin de paix. J’aimerais avoir une vieillesse tranquille dans un beau coin, tel quel Búzios, Cabo Frio ou Arraial do Cabo, là-bas, chez vous, au Brésil. Si vous ne connaissez pas encore ces endroits, faites le possible pour les connaître un jour. Vous devez me promettre que vous y irez  un jour, au moins pour vous rappeler de moi. C’était comme si j’étais au paradis. C’est la vie que je veux pour moi: air pur, la nature et une île sauvage à laquelle je pourrais vivre avec mes petits animaux. J’adore les animaux, je te l’ai dit. J’aime la nature et tout ce qu’elle a de plus simple. Qui sait un de ces jours vous viendrez vivre avec moi?
Je vous envoie, de mon coeur au  vôtre.

Une grosse bise
De celle qui vous admire,

Camille.
P.S.: Venez un de ces jours en France. Cherchez-moi s’il vous plaît.

TRADUZINDO: Paris, 24 de dezembro de 1967 / Meu pequeno amor / Paris está linda nessa época do ano. Lá fora, a neve cobre a cidade e nos lares as pessoas preparam-se para o Natal. Nessa época do ano fico muito melancólica e começo a pensar em você, meu jovem amor brasileiro. Começo a sentir saudades daí da sua cidade, do hotel simples que ficamos, daquele licor divino que você me apresentou e até daquele pequeno restaurante que você me levou me jantar. Foi um dos jantares mais românticos de toda a minha vida. Você é mesmo muito galante e a mulher que tiver você como namorado será uma mulher feliz. /Falei de você para duas pessoas: Catherine, minha secretária e Jean-Marc, meu cabeleireiro. Eles não acreditaram que um menino de dezessete anos tenha sido capaz de ir para a cama comigo e me feito tão feliz. Falei que você era o meu amor, meu amante juvenil e minha doce lembrança do Brasil. / Ter ido ao Brasil me fez pensar muito em minha vida. Estou cansada dessa vida de atriz e pretendo cumprir alguns contratos e depois abandonar a carreira. Preciso paz. Gostaria de ter uma velhice tranqüila num lugar bonito como Búzios, Cabo Frio ou Arraial do Cabo aí no Brasil. Se você não conhece esses lugares, faça tudo para conhecê-los um dia. Você se sente apresentado ao paraíso.  Essa é a vida que quero: ar puro, natureza, e uma ilha selvagem onde eu possa conviver com animais. Amo a natureza e o que ela tem de mais simples. Quem sabe um dia, você não vem morar comigo? /Mando para você, do meu coração para o seu. /Um grande beijo /De sua admiradora /Camille. / P.S: Venha à França um dia. Me procure por favor.

O menino não respondeu a carta de Brigitte. Percebeu que aquela relação era impossível. Tentou de tudo para esquecê-la. Só uma coisa o fez lembrar. Um dia qualquer, no começo dos anos 70, com alguns colegas da Universidade, foi reconhecido por Seu Olímpio, o garçom da Cantina do Lucas em BH. Falaram em separado, seu Olímpio entendeu, contou que também tivera uma história de amor e que compreendia o menino. Que ele guardasse em seu coração a imagem daquela mulher. Falou-lhe ainda que guardava a foto e o autógrafo que ela dera em troca dele manter o segredo. O tempo passou e nunca mais o garoto falou sobre aquele assunto com Seu Olímpio embora continuasse, até fins de 1977, a freqüentar aquele bar.