domingo, 3 de fevereiro de 2013

24- (RE) APROXIMAÇÃO



24- (RE)APROXIMAÇÃO




Aos poucos, em 63 e 64, fomos, de fato, ficando mais amigos, eu e Maria Goretti. Tudo aconteceu de forma moderada, com uma (re)aproximação lenta entre nós dois. Do meu lado, principalmente, com alguma confusão, porque me era difícil entender que Chiara e Maria Goretti se misturavam. Aos poucos fui aprendendo a selecionar as fases daquela relação. Aprendi, sentindo que lentamente fortalecíamos nossos contatos, sem atropelos. Descobri, nesse tempo, pelos encontros do ginásio, que, com Chiara eu falava fora da sala, nos intervalos, e com Maria Goretti, durante as aulas. Para os outros colegas, nada transparecia: já não éramos tão adolescentes que nos rejeitássemos. Mais ainda: havia um hábito bom de coleguismo, incentivado por Antônio Drummond, nosso professor de matemática, que sempre incentivava os trabalhos em grupo, ou em duplas. Para minha sorte, porque sentávamos perto, quase sempre ele colocava Maria Goretti para trabalhar comigo.
Mesmo assim, as coisas eram ainda um pouco confusas para mim. Comento agora, com você, amigo leitor, todas as dúvidas que eu tinha, porque é bastante provável – sinto – que você também esteja ficando confuso. Pense bem, não era fácil para mim, dos doze aos quatorze anos, assim como havia sido quando criança, lidar com uma coisa inconstante daquele modo. Posso dizer que levei bom tempo para aprender quando ela era uma ou era outra. Para piorar, Maria Goretti passou a usar uma colônia parecida com o perfume de gardênia. Só mais tarde aprendi que o perfume que acompanhava Chiara era mais persistente. Aprendi também que o morder de lábios era distintivo.
No terceiro ano, mais maduros, passamos até a estudar juntos. Maria Goretti passou mesmo a freqüentar minha casa, por isso. O tempo se encarregaria de me dizer que ela me visitava, muitas vezes, por influência de Chiara.
Estar perto dela, mesmo que não do modo pleno que eu ambicionava, ajudou a enfrentar aquele ano de 64, afinal foi o ano do Golpe, e mesmo que não houvesse ainda uma definição política precisa na minha cabeça, tudo aquilo desestruturou cada um de nós, de minha geração. Falarei disso mais adiante porque, em virtude desse acontecimento, minha vida acabaria mesmo tomando outros rumos, mesmo que não tenham sido tão radicais.
Nos dias seguintes ao 31 de março, discutia o assunto com as “duas” e sentia que havia pouca diferença no que elas pensavam. Maria Goretti, um tanto quanto prática, premeditava que as conseqüências futuras talvez não pudessem ser tão boas. De certo modo, sua opinião refletia, a de Seu Alcides, pessedista assumido. Chiara, quando estava ali, chamava-me a atenção, para que eu não me deixasse envolver. Lembrava-me – protetora - de que eu tinha só treze anos (só faria quatorze em abril) e, de que por mais que eu gostasse de política, não devia me meter naquilo. Dizia, com segurança, que aquilo tudo acabaria virando uma onda de violência. Disse-me, também, saber que minha mãe sofreria muito se eu me envolvesse de forma séria.

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