Comentário
do professor Carlos Alexandre Baumgarten prefaciando “Os comedores do vidro”, livro
do autor, sobre este conto: “Em ‘O acerto das horas’, encontramos o
narrador já adulto, vivendo suas experiências profissionais e amorosas, no
ambiente de uma editora responsável pela publicação da revista Clara. O conto, diferentemente dos
anteriores, reveste-se de um caráter intertextual significativo, uma vez que as
referências literárias a Fernando Pessoa e a James Joyce são explícitas. Mais
do que isso, o texto, na sua efabulação, vale-se de motivo presente no
conhecido poema “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade; a diferença é que,
no conto de Geraldo, tudo acaba bem para o narrador que amava Isabela, que
gostava de Gino, que gostava de Diana, que gostava do narrador. “O acerto da
horas” revela, ainda, um narrador mais seguro e ousado na arte de narrar, ao
promover o cruzamento de registros discursivos de origem e natureza diversas.”.
O ACERTO DAS HORAS
Se alguém quer saber no que nos tornamos, eu, Diana,
Gino e Isabela, precisa de início pensar no sentido contrário dessa ordem em
que os nomes foram expostos. Precisa tomar como exemplo um relógio: eu no lugar
do 12, Isabela no lugar do 3, Gino no lugar do 6 e Diana no lugar do 9. Na
ordem e direção em que seguem os ponteiros, na ordem em que segue a vida: para
a frente. O 12 tentando alcançar o 3, o 3 tentando alcançar o 6, o 6 tentando
alcançar o 9, o 9 tentando alcançar o 12.
O final do ciclo de uma hora acomodaria as coisas.
Iria estancar os ponteiros, organizar os encontros, frutificar as buscas,
distribuir os pares.
Éramos
três,a princípio: eu, Diana e Gino. Trabalhávamos, nessa época, na editora. Na
revista “Clara”. Eu como editor-chefe, a Diana como copy desk e o Gino de fotógrafo. Bem no início, antes que a
história de nossas vidas tomasse o desdobramento que tomou, não achávamos que
tivéssemos outras coisas em comum, pelo menos eu e a Diana. Éramos apenas
amigos com perfeita sintonia no trabalho e perfeita harmonia descomprometida no
happy hour, momento em que falávamos
de variedades nunca muito profundas, quase sempre banalidades, conversas
jogadas fora, como se diz na gíria, alívio de quem trabalha com a tensão de
prazos e horários.
Gostávamos, como gostamos até hoje, dessas
trivialidades, e era raro o dia em que não descíamos ao Pelicano para um
chopinho. De certa forma já havíamos incorporado aquele hábito de duas horas
depois do expediente. Era sagrado. Se tivéssemos compromissos, estes eram
marcados para depois desse horário.
Quando
conhecemos Isabela, de certa forma houve uma interferência em nossas vidas.
Eu... caí de quatro literalmente. O Gino não demonstrou muito, mas também dava
para ver, por seus olhares, que ela o atraía. Diana não escondeu seu
aborrecimento nos primeiros dias, porque, afinal, aquela quarta presença
desmanchava ou alterava nossa “santíssima trindade”.
O que é a vida? Até então eu nunca tinha pensado em
Diana como uma mulher, ou seja, daquelas que dá vontade de arrastar para a cama
como um bárbaro, enlouquecê-la de amor e depois casar ou abandonar, como até
então eu sempre fizera.
Era experiente no assunto, já tivera muitas mulheres
de uma noite, que depois abandonei esquecendo promessas, já tivera quatro
meios-casamentos, de morar junto um tempo e depois desfazê-los. Até então eu
não tinha pensado em Diana como esse tipo de mulher. Para nós, eu e Gino – pelo
menos assim eu pensava -, ela era uma igual, para quem falávamos bandalheiras
de nossas conquistas e aprontações com as outras. Ela, aliás, nunca tomou nenhuma
atitude feminista de defender as mulheres “ultrajadas”, porque, personalidade
forte como era, achava que aquelas que não se defendiam tinham mais é que
arranjar bandidos como eu e o Gino. De certo modo, eu sentia que ela estava à
espreita de que Isabela caísse em nossas garras, inconscientemente talvez, até
torcendo para que isso acontecesse. Uma coisa, no entanto, a bem da verdade,
precisa ser dita: nunca, em momento algum, Diana tratara Isabela mal no
trabalho. Ao contrário, mostrava-se cooperativa e com grande senso
profissional. O problema era no fim do expediente, pois agora ela tinha que
dividir a nossa atenção com a outra.
Pra não deixar a história faltando um começo, preciso
contar quem é Isabela e como foi que nós a conhecemos. Antes, no entanto, eu
preciso dizer que a história que vou contar pode muito bem caber nas páginas de
“Mulher Hoje”, “Femme”, “Domênica”, “O Jornal Feminino”, ou até mesmo “Clara”,
nossa revista; qualquer uma dessas publicações que tratam o universo feminino
com uma distinção tamanha e tão sem propósito, que fico me perguntando se
vivemos, nós e elas, no mesmo mundo. A história que vou contar tem até a dose
certa de “água-com-açúcar”, capaz de provocar lágrimas até do olho mais
insensível, fazer leitoras ter sonhos insensatos, provocar rebuliço na alma das
mulheres mais improváveis. “La femme rit
quand elle peut et pleure quand elle veut”, já dizia um desses filósofos da
vida.
Quando D. Vanda, nossa tradutora, se aposentou,
Isabela foi a quarta tentativa de Seu Diamantino, o dono da Editora, para
ocupar o lugar. Bacharel em letras recém-formada (apesar de ter sido numa
faculdade do interior), alguma experiência como professora de inglês em
cursinho e alguns cursos de verão, de conversação em francês. Não era
exatamente um supra-sumo de currículo, mas na urgência em que andávamos e
considerando a pobreza de nossa revista, até que resolveu. De fato,
precisávamos que a pessoa que trabalhasse conosco aceitasse que o salário não
fosse certo no fim do mês, tivesse uma alta carga de idealismo e compreendesse
que, às vezes, a renda da publicidade mal dava pra pagar a impressão. Era a
situação típica da vida profissional de alguém recém-formado e sem outra opção
de emprego. Nós, mais velhos e experientes, nos garantíamos fazendo uns “frilas”
que reforçavam a renda, encarando “Clara” como um trampolim que pudesse nos
levar pra uma revista maior.
Importa que minha avaliação o Seu Diamantino
respeitava, e isso contou muito para a contratação de Isabela. Ela era tão
atraente que resolvi dar um desconto em sua pouca experiência, acreditando em
minha capacidade de ajudá-la a aprender o serviço – o que seria prazeroso.
Também com aquele porte! Ela era magra sem ser ossuda, cabelos longos e pretos,
morena, boca e pernas desejáveis e usava minissaias estonteantes.
No
princípio, tive que penar muito para convencê-la e ensiná-la que uma tradução
editorial não era apenas traduzir literalmente alguma coisa. Trasladar era mais
interpretar o pensamento de um autor, escrever como se fosse ele, considerando
a diferença das duas línguas, coisas assim, Confesso que, se ela fosse feia, eu
não teria tanta paciência. De certo modo, ela até que aprendeu razoavelmente
rápido.
O que interessa é que logo, logo, ela entrou na turma
e passou a dividir conosco a mesa do Pelicano. Agora, conscientemente, eu
descubro que até de um modo exagerado, eu tentava impressioná-la, O sorriso
crítico e o olhinho apertado de Diana quando eu falava com Isabela, deveria ter
sido suficiente para que eu percebesse.
Não fui, no entanto, precipitado em minha estratégia
de conquista. Sempre acreditei que “o prato de mingau quente deve ser comido
pelas bordas”, por isso alinhavei bem o meu roteiro, para dar o bote na hora
certa e conquistá-la.
Aproveitei bem, pelo menos no início, uma chance que
eu tive. Tínhamos como incumbência para a edição da revista daquela quinzena um
artigo de um médico irlandês sobre cirurgia de mama sem mastectomia, cheio de
termos técnicos, trabalhosos de traduzir. Como era sexta, e para o sábado
tínhamos que deixar pronto um artigo sobre os lançamentos de um costureiro,
paginar e escolher fotos, o artigo do médico podia ficar para segunda. Só
ficaria faltando ele. Talvez eu não tivesse chance igual nos próximos anos.
Convidei-a para um almoço em minha casa no domingo, quando então poderíamos
discutir o artigo. Foi difícil convencer Gino e Diana que eles não estavam
convidados. Como editor-chefe, recomendei para Diana que trouxesse pronto outro
trabalho e descobri para Gino uma prova de motocross,
seu hobby favorito.
A gente quando se apaixona comete bobices sem tamanho.
Antes do convite mandei para ela um vasinho de violetas com versos de Fernando
Pessoa, ou melhor, Álvaro de Campos:
“Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois
de amanhã.
E assim será possível; mas hoje
não...
Não, hoje nada; hoje não posso...”
Tentava
impressioná-la com os versos emprestados, hoje reconheço que de uma forma tão
sutil que era quase incompreensível, mas era o recurso que achei naquele
momento. Ela, causando-me um arrepio que a paixão suplantou, perguntou-me de
quem eram os versos. Respondi: Fernando Pessoa sob o heterônimo de Álvaro de
Campos, e ela me perguntou: “hetero... o quê?” Deixei passar e fiz-lhe o convite.
E ela: “Sim. Pode ser. Quando? Domingo? Tá legal, acho que é um dia legal. O
Gino e a Diana vão também?”
Enquanto eu descascava as batatas do
almoço, tentei espremer a cabeça pra tentar me lembrar de um incentivo qualquer
dela, codificado, naquele instante fugaz da resposta ao convite. Se houvera,
não consegui perceber. Até porque estava um pouco nervoso e com ansiedade.
Lembrei-me apenas, porque, para apenas uma palavra meus sentidos estavam
alertas: para o sim. Aquela palavrinha havia sido suficiente para que eu
acreditasse nela como a chave que abriria todas as portas. Competiria a mim, com
minha habilidade, conseguir o pretendido.
Naquela sexta não fui ao Pelicano.
Estava me guardando para o domingo. Fui fazer compras no supermercado e
preparar-me para o grande dia.
Pilotei o fogão, ensaiando o prato que
faria no domingo. Precisava impressioná-la.
PORTAFOGLIO
AO BRIE E PISELLI
Ingredientes:
2
pedaços de filé de 200
gramas, queijo brie, sal, pimenta-do-reino, farinha de
trigo, 2 colheres de sopa de manteiga, 4 colheres de sopa de óleo de milho, 2
cálices pequenos de vinho branco seco, 2 conchas de caldo de carne, ervilhas.
Preparo:
Corte
o filé no sentido horizontal, obtendo quatro fatias, e bata cada uma delas até
ficarem bem finas. Coloque sobre elas, duas de cada vez, um cubo grande de
queijo brie e feche, pressionando a borda com os dedos. Tempere com sal e
pimenta-do-reino, passando-os após na farinha de trigo, para segurar o suco.
Frite durante cinco minutos cada lado, até dourar bem. Retire o excesso de
gordura e jogue o vinho branco na frigideira. Espere evaporar, complete o
cozimento com caldo de carne e duas colheres de sobremesa de manteiga fria.
Reduza o molho em 1/3 e, antes de desligar, acrescente um punhado de ervilhas
previamente cozidas. Sirva com purê de batata.
Fiz quatro vezes aquele prato. A primeira, na noite
depois que ela aceitou o convite, a segunda no almoço de sábado, a terceira e
quarta na noite desse mesmo dia, tentando memorizar os ingredientes para não
fazer feio. Na primeira vez ficou muito salgado, na segunda o purê ficou
embolotado, na terceira esqueci de tirar o excesso de gordura, na quarta não me
lembrei de cozinhar previamente as ervilhas.
Sobremesa e bebida para acompanhar não era problema:
uma torta de maçã que minha mãe me ensinara e um Cabernet correto.
Só torci para tudo dar certo com o prato principal,
que, aliás, parece que deu, pois o gato do telhado gostou muito.
Convenientemente havia preparado o ambiente. Uma
faxina completa no apartamento, o Ulisses
de Joyce estrategicamente visível, Billie Holiday na vitrola cantando “A
Fine Romance”, lençóis limpos e cheirosos (pensando em eventualidades), avenca
podadinha na janela, meus troféus esportivos, e a camisa vermelha desbotada e
charmosa que me dava um ar de intelectual.
Ela veio com um atraso de quase uma hora. Não viu o Ulisses, perguntou quem era a mulher de
voz estranha que cantava, não comentou nada sobre minha camisa e disse que não
demoraria muito porque tinha um batizado da filha de uma amiga. Trouxe pronta a
tradução que um antigo professor a ajudara a fazer, e nem notou a produção. O
pior foi quando ela disse: “Desculpe, esqueci de dizer que não como carne”,
pediu um refri porque não bebia em hora de almoço e impacientemente olhava o
relógio sem prestar atenção na avenca com suas folhas tenras e verdes como
esmeraldas.
Menos mal que eu tinha umas coisinhas para improvisar
uma salada e havia umas garrafas de Coca na geladeira. Me senti como um menino
de quem roubaram o doce. Comemos calados e sem assunto. Assim, com a mesma
pressa com que chegou ela saiu, deixando o artigo de oito páginas para que eu
lesse, (corrigisse se precisasse) e nem me ajudou a lavar a louça.
É claro que na segunda-feira eu estava de péssimo
humor. Descontei minha raiva no boy
da editora que deu o azar de me trazer papéis errados, mandei o Gino refazer
fotos e Diana prestar mais atenção no serviço por causa de um pequeno erro de
pronome. Para Isabela mandei um dicionário de termos técnicos que comprei
naquela manhã, com um lacônico bilhete, dizendo apenas: “Acho que você está
precisando disso”.
Fui com eles ao Pelicano só na quarta e na quinta, mas
definitivamente, não estava para muitas conversas. Deu pra notar que de vez em
quando a Diana com um leve sorrisozinho cínico me observava, que Isabela pela
primeira vez se revelou interessada em motos e pediu a Gino que a levasse um
dia pra vê-lo competir.
Passaram-se duas semanas naquela frieza. Dia sim, dia
não, Gino e Isabela apareciam por lá cheios de conversinhas, como se eu e Diana
não existíssemos. Já não saíamos mais juntos do trabalho como fazíamos. Eu e
Diana mantivemos o costume, até porque eu já estava mais calmo e descobrindo
que quem não conhecia Fernando Pessoa, Billie e Joyce não era para mim. Comecei
a prestar atenção no fato de que Gino não era mais tão gentil com Diana, não
fazia mais aquele olho de peixe morto que fazia para ela quando estava bêbado e
nem lhe confidenciava uma antiga paixão não correspondida, como sempre fazia
depois da quarta ou quinta dose.
Estávamos estranhos, todos nós.
No dia seguinte, só eu e Diana fomos ao bar.
Definitivamente nosso grupo já era mais o mesmo. Eu e ela aproveitamos para
discutir umas matérias pendentes. Confesso que não pensei em nada quando Diana
me convidou para almoçar em sua casa naquele domingo. Pensei apenas na questão
do trabalho e nunca me passou pela cabeça que iria acontecer o que aconteceu.
Cheguei na hora marcada, porque sou educado. Levei
flores e uma garrafa de vinho, porque sou gentil. Nunca antes havia ido à casa
de Diana.
Agora, relembrando, penso no sentido das horas do
relógio: sempre para a frente, determinando o tempo, determinando a passagem
dos dias. Dias que são frações de um tempo transbordante de surpresas a cada
passo que os ponteiros dão para a frente. Impossível prever o minuto próximo,
mais ainda a próxima hora, e, muito mais ainda, as conseqüências do final de um
dia.
Diana me recebeu na porta e de repente eu estava tendo
a surpresa de descobrir que até então eu nunca tivera a sensibilidade de notar
que ela era uma mulher bonita. Uma gracinha: pequenina como um a porcelana
delicada, pele clarinha, cabelos louros curtinhos, mais gordinha do que magra,
dando uma vontade imensa de tocar, de abraçar.
Entrei na sala com Billie cantando “My Man”; descobri,
na estante, muitos livros que eu gostava, um álbum de fotos disfarçado de
caixinha de música e avencas muito bem cuidadas na janela.
De almoço, preparado por ela, “Involtinos de carpaccio ripieno di avocado ed erba cipolina”, um
prato delicadíssimo. Vinho delicioso e uma mousse
de maracujá que nunca alguém poderia esquecer depois de provar.
Depois, durante o licor, o álbum: fotos lindíssimas,
dela neném, dela garotinha, dela adolescente e dela adulta. Muitas dessas
últimas tiradas por Gino, fotos espontâneas no ambiente de trabalho. Uma dessas
fotos me chamou a atenção. Eu, ela, e D. Vanda no balcão do cafezinho, foto que
eu nunca tinha visto e na qual ela olhava para mim com um olho brilhante.
Alguém já disse que a fotografia é um momento congelado na vida das pessoas
para que se possa olhar e prestar atenção em detalhes que sejam impossíveis de
atentar na pressa do dia-a-dia. Confirmei mais uma vez: como eu vivia cego e
nunca prestara atenção naquela mulher. Era como se eu estivesse sendo
apresentado, nunca a tivesse visto antes e estivesse tendo uma revelação.
Depois de tudo que aconteceu – que eram as coisas
previsíveis de acontecer, dadas as circunstâncias – enquanto tomávamos uma
ducha, ela disse para mim: “Sabia que o Gino já me passou várias cantadas? Não
sabia? Sabe porque eu nunca aceitei? Por sua causa. Tinha certeza absoluta de
que um dia eu te alcançava. Surpreso?”
O 9 alcançando o 12. Enlaçando. Seqüestrando. Dizendo:
não solto mais.
Claro que eu teria ficado surpreso se ela me falasse
daquilo fora do contexto, no sábado, na mesa do bar, por exemplo. A hora não
teria sido a certa. Agora não. Eu descobria o correto caminho das horas do
relógio, o intrincado movimento do tempo determinando sub-repticiamente os
acontecimentos, calculando momentos, arrematando a teia do destino.
Confirmei isso na segunda-feira, acordando do lado
dela, usando apenas um carro para ir para o trabalho e vendo que o céu da manhã
era muito mais azul do que até então eu pudera perceber. Descobrindo na editora
a foto de Isabela embarrada, beijando o Gino campeão em sua moto. Percebendo
que eu , que antes gostava de
Isabela, que gostava de Gino, que gostava de Diana, que gostava de mim,
transgredíramos, enfim, o movimento contínuo e errado. O 9 se juntara ao 12, o
3 se juntara ao 6, corrigindo, nos intrincados movimentos do tempo, a busca
errada dos ponteiros do relógio.