quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

21- Chiara de volta?



21- CHIARA DE VOLTA?



Tive um sonho revelador no dia 12 de março de 1961, um domingo. Tenho esse sonho descrito em um caderno que guardo até os dias de hoje, como a maioria das recordações palpáveis que me lembram Chiara. Impressiona a inteireza do sonho, o desenvolvimento linear e sem desvios, fazendo-me acreditar que aquilo era mesmo um aviso. Encontramo-nos, no sonho, em um grande salão. Eu vestia um terno azul e olhava um jardim de inverno cheio de pássaros e flores. Nesse jardim de inverno, imenso, um labirinto de arbustos modelados. Depois, silenciosamente, ela chegou e me cobriu os olhos com as mãos. Reconheci-a. Deu-me um rápido beijo no rosto, pegou a minha mão e conduziu-me para sentar com ela numa poltrona de veludo vermelho. Serviu-me delicadamente um chá e disse que estava próximo o dia em que voltaria de novo para ser minha companhia. Seria por um tempo, indefinido ainda, mas seria bastante para realizarmos juntos muitas coisas. Perguntei-lhe quando, e ela disse que eu tivesse calma, na hora certa eu saberia, deveria ter paciência.
        Depois daquela noite acreditei que a teria de novo. Tive ainda alguns sonhos curtos em que ela reafirmava que voltaria. Preparei-me ansioso para recebê-la.
        Naquele ano de 61, nasceu minha primeira sobrinha, Elizabete, filha de Laura e Tomaz. Transformou-se imediatamente no xodó de minha casa. Primeira neta e primeira sobrinha; era a empolgação de todos.
        No ano seguinte, em maio, Tomaz resolveu levar a filha a São Paulo para que seus pais a conhecessem. Fui nessa viagem com eles: a minha primeira grande viagem. Fui tranqüilo, porque consultei Chiara em um outro sonho, e ela me tranqüilizou: disse que eu fosse, porque ainda não estava no tempo de ela voltar. Senti-me importante fazendo aquela viagem. Foi a primeira vez que eu fiquei tanto tempo (quinze dias) longe dos meus pais e de Matozinhos. Eu, que era empolgado com o progresso brasileiro, mesmo sendo um pré-adolescente, fiquei mais ainda quando conheci São Paulo.
        Durante a minha estada em São Paulo, sonhei três vezes com Chiara. Senti-a perto muitas vezes, uma vez, inclusive, como se ela fosse uma menina que eu vi numa sorveteria em Piedade, a terra de Tomaz. O que me fez ter essa impressão, quase certeza, foi o repentino aroma de gardênia no salão da sorveteria. No futuro eu sentiria muitas vezes essa sensação em outras pessoas, reconhecendo minha amiga numa específica expressão do rosto. Como se ela aparecesse disfarçada, e só eu pudesse perceber...

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