sábado, 19 de janeiro de 2013

7- Tempo de escola



7- TEMPO DE ESCOLA



O ano de 1956 começou diferente dos outros anos. Praticamente eu ficava o tempo todo em casa com minha mãe, já que meus irmãos todos estavam trabalhando. Christiano, no Banco Hipotecário, ou na loja de Zé Gomes, não me lembro bem; Lúcio e Luciano, no armazém de Joaquim Otaviano; Zezé se mudara no ano anterior para Belo Horizonte a fim de trabalhar com Seu Jaime, um amigo de meu pai. As minhas irmãs já trabalhavam há bastante tempo: Laura, no SAPS, uma entidade da previdência social que vendia alimentos mais baratos; e Nem (Margarida) era professora em Arco Verde, localidade perto de Prudente de Moraes, distrito de Matozinhos, à época.

Retomei a vida normal de menino, brincando muito no quintal e desenhando bastante, que era aquilo de que eu mais gostava. Minha mãe, convencida pelo Dr. Jurandy, fez com que eu saísse do quarto, pegasse mais sol e ficasse mais às suas vistas. Comecei a usar uma velha mesa do lado de fora da casa, perto da cozinha, de onde ela sempre podia me vigiar e conversar comigo. Quando chovia, e naquele ano choveu muito, eu desenhava ali mesmo na cozinha, que era grande, espaçosa e me premiava com os cheiros gostosos de comida que minha mãe fazia no fogão a lenha. Desenhava já histórias em quadrinhos, que depois submetia à crítica severa do meu irmão Luciano. Sem constrangimento, ele apontava meus erros e passava por cima, com seu traço habilidoso, corrigindo os desenhos que eu fazia. Eu preferia as histórias de faroeste, influência clara de meu irmão, e já conseguia nessa idade ter uma noção de seqüência: iniciando quase sempre com o caubói chegando à cidade, entrando no “saloon”, protagonizando uma briga ou um duelo, vencendo naturalmente e indo embora, errante, depois de ter beijado a mocinha.  Eu vivi também a fase feliz da descoberta do cinema. Luciano, sempre ele o meu iniciador, passara a me levar às matinês do Cine Municipal (cinema de Romeu), já fazia um ano. Vi todos os filmes de Tom Mix, Hopalong Cassidy, Randolph Scoth e Roy Rogers que passaram em Matozinhos desde 55 até eu virar adolescente. Já lia direitinho e atacava ainda a grande coleção de gibis do meu irmão. Lia de tudo: Tom e Jerry, Pernalonga, Rock Lane, Aí, Mocinho!, Durango Kid, O Globo Juvenil, Cavaleiro Negro, Bronco Piller e Castorzinho, X-9, Família Marvel, Mandrake, Zorro, Tarzan, Jim das Selvas, Nick Holmes, Superman, etc., e precocemente, muito precocemente, gostava de ver estrelas de Hollywood, de maiô, nas páginas de Cinemin ou Filmelândia.  Muitas das histórias em quadrinhos passavam longe de ser entendidas, mas gostava dos desenhos, dos movimentos, dos cavalos, brigas, tiros e também da atmosfera sedutora do preto e branco da impressão. Começou, também, através das revistas e da iniciação comandada pelo meu irmão, o intenso amor que até hoje nutro pelo cinema. Aprendia os nomes e, tão logo aprendi a escrever, imitava Luciano, fazendo um pequeno fichário, onde relacionava nome de atores e diretor, fazia um breve comentário e dava uma nota de zero a dez para cada filme. Destacava em minhas avaliações principalmente as atrizes.

Foi também uma época em que eu ouvi muito rádio. Ouvia aquilo de que minha mãe gostava: a Rádio Nacional do Rio e os grandes cantores da época. Aprendi com ela a ouvir e gostar (gosto até hoje) de Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Aracy de Almeida, Cauby, Nelson Gonçalves (o seu preferido), Carlos Galhardo, Ivon Cury e tantos outros. Desse modo, os cantores do rádio do Brasil faziam a trilha sonora das primeiras histórias, com começo, meio e fim, que eu começava a inventar em desenhos. Gostava também de um programa na Rádio Tamoio, com grandes orquestras, quase sempre clássicos ligeiros, patrocinado pelo Sabonete “Cashmere Bouquet” e pelas “Pílulas de Vida do Dr. Ross”. Fechava os olhos e inventava histórias, quase coreografias, induzido pelas músicas.

Fiquei assim, nessa vida de ouvir muita música, desenhar e brincar até meados de fevereiro, quando ingressei no Grupo Escolar Santa Terezinha. Gostei imediatamente da escola, dos novos amigos que fiz, das brincadeiras do recreio e, é claro, apaixonei-me por quase todas as minhas novas professoras, entre elas, Lízia, de Dona Vitiza, que mais tarde seria minha grande amiga. Apaixonei-me porque ela era afetuosa e tinha uma grande habilidade no trato com as crianças - atenciosa enfim. Minha vida escolar transcorreu – pode-se dizer - normalmente até o terceiro ano, em 1958...


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